Festival Mix Brasil exibe produções premiadas no Panorama Internacional
Por Irving Alves
Belos surfistas em "Nas Ondas de Newcastle"
Os últimos retoques estão sendo dados para o início do 16º Festival Mix Brasil de Cinema da Diversidade Sexual, que começa em São Paulo nesta quarta, 12, e no dia 9 de dezembro em Belo Horizonte. Entre outros atrativos da programação deste ano, que vem com um total de cerca de 200 filmes, o público das duas cidades terá a oportunidade de conferir o que vem acontecendo na produção cinematográfica de temática LGBT de várias partes do mundo.Boa parte delas estarão no Panorama Internacional, seção do evento dedicada à exibição de novos longas-metragens que estão circulando em festivais internacionais de cinema e no circuito gay.O Mix traz os highlights para você se programar e não perder nadinha. Nas Ondas de Newcastle (Dan Castle, 2008, Austrália, 107') O “filme de surf” é um dos mais fascinantes subgêneros do cinema, não só pela beleza e intensa movimentação de suas imagens, como também pela exposição muscular dos corpos sarados dos surfistas. O diretor e roteirista assumido Dan Castle aproveita a oportunidade e posiciona muito bem suas câmeras, com um olhar fetichista sobre o belo elenco masculino. O filme combina as estonteantes locações costeiras da cidade de Newcastle, na Austrália, com a energia pura, a música e a rebelião da cultura teen. O jovem Jesse, de 17 anos, mora com seus irmãos e vive à sombra do mais velho, Victor, que remói seu fracasso em se tornar o próximo grande astro do surf. O futuro de Victor não é promissor. Já Jesse tem o talento para ingressar no circuito internacional de surf e assim se afastar daquela realidade sufocante, mas será que ele também conseguirá superar sua vocação natural para se auto-sabotar? Durante um fim-de-semana com os irmãos e amigos, que incluirá a descoberta do primeiro amor e uma tragédia familiar, Jesse descobrirá o que realmente é importante na vida. O também ator Israel Cannan lidera uma banda que leva seu nome e que interpreta muitas das músicas da deliciosa trilha sonora.Onde Assistir: CINESESC - 15/11 (sábado) - 20h00 CINESESC - 20/11 (quinta-feira) - 18h00Gay... e Daí? (Jean Baptiste Erreca, 2007, França, 72') Esta é uma rica e bem realizada compilação de reportagens internacionais exibidas em novembro de 2007 no programa La Nuit Gay, transmitido pela rede francesa de TV Canal +. É uma fascinante série de retratos atuais e esclarecedores da vida de gays, lésbicas e transexuais em sete importantes cidades do mundo: Berlim, Londres, Paris, Havana, Nova York, Madri e Pequim. Há insights pessoais em cenas diferentes: na Alemanha, por exemplo, um modelo todo tatuado e ex-Mr. Leather deprime-se com a escassez de cultura gay; em Paris, mostra-se o estilo de vida de um ativista gay de direita quando Nicolas Sarkozy sobe ao poder e faz-se também uma celebração a um clube lésbico de rock; um casal trans de Madri vê o mundo externo como modelo de hetero-normatividade e travestis nos levam por um passeio pelo Madrid Gay Pride; visita-se o underground lésbico de Havana; e empreende-se uma excursão por Pequim guiada pelo cineasta Cui Zi’em. A vida destas pessoas indica que há uma nova cultura pós-gay? Para além de afirmar a homossexualidade, deve-se agora lutar pela integração? Estamos testemunhando novos estilos de vida e novas maneiras de pensar? O documentário procura responder a estas e outras questões pertinentes. O diretor Jean Baptiste Erreca filmou de forma sexy os caubóis do Mato Grosso do Sul em Cowboy Forever (2006). Onde Assistir: ESPAÇO UNIBANCO DE CINEMA SALA 1 - 17/11 (segunda-feira) - 20h50 CINESESC - 19/11 (quarta-feira) - 22h00 Combinação Selvagem: um Retrato de Arthur Russell (Matt Wolf, 2008, EUA, 71')Considerado por muitos um dos melhores documentários musicais dos últimos anos, este é o retrato visualmente arrebatador de um artista seminal: Arthur Russell, compositor de vanguarda, cantor, letrista, violoncelista e produtor fonográfico. Antes de sucumbir à AIDS em 1992, Russell criou uma obra prolífica que abraçou tanto o pop quanto as possibilidades transcendentais da arte abstrata. Apenas agora, mais de quinze anos depois de sua morte, é que o compositor começa a encontrar seu público. Esta importante e tocante história de vida é reconstruída a partir de material raro de arquivo e de depoimentos de familiares, amigos e colaboradores, entre eles o também compositor Philip Glass e o escritor Allen Ginsberg. Em algumas cenas, o ator Tracey Stewart faz as vezes de Arthur quando adulto. O longa, estréia no formato do cineasta Matt Wolf, conquistou o prêmio do público de melhor documentário no Festival de Cinema Gay & Lésbico de Dublin.Onde assistir: ESPAÇO UNIBANCO DE CINEMA SALA 1 - 16/11 (domingo) - 14h50 CINESESC - 17/11 (segunda-feira) - 20h00 Otto; ou Viva Gente Morta (Bruce LaBruce, 2008, Canadá/Alemanha, 95') Bem ao estilo do irreverente cineasta underground Bruce LaBruce, esta sátira pós-gay e pós-punk contém cenas de sexo explícito e desafia o gosto padronizado do espectador tradicional. Um jovem zumbi de nome Otto aparece numa rodovia remota, sem ter idéia de onde ele veio e para onde ele vai. Depois de pegar uma carona até Berlim e se alojar num parque de diversões abandonado, ele começa a explorar a cidade. Logo ele é descoberto pela cineasta underground Medea Yarn, que começa a rodar um documentário sobre Otto com a ajuda de sua namorada, Hella Bent, e de seu irmão, Adolf, que opera a câmera. Ao mesmo tempo, Medea continua tentando finalizar seu filme “Up with Dead People”, um épico político, pornográfico e de terror no qual trabalha há anos. Ela convence o astro de seu filme, Fritz Fritze, a ceder o quarto de hóspedes para o vulnerável Otto. Quando este descobre que Fritz tem uma maleta que contém informações sobre o seu passado, antes de sua morte, Otto começa a se lembrar de seu ex-namorado, Rudolf. Ele combina então de se encontrar com o ex no pátio do colégio em que se conheceram, com resultados devastadores. Uma trilha sonora punk-rock embala mais esta extravagância sexy e escatológica do sempre surpreendente LaBruce. Onde Assistir: CINESESC - 19/11 (quarta-feira) - 24h00ESPAÇO UNIBANCO DE CINEMA SALA 1 - 20/11 (quinta-feira) - 20h50 Pelada com Véu (Ayat Najafi e David Assman, 2008, Alemanha/Irã, 86')Este foi o grande vencedor do prêmio Teddy (dedicado a filmes de temática LGBT) de melhor documentário e também do Teddy de público no festival de Berlim 2008; conquistou ainda o Freedom Award no L.A. Outfest. Marlene Assmann (irmã do diretor), jogadora de um time de futebol de Berlim, o BSV Aldersimspor, fica sabendo a respeito do time iraniano de futebol feminino, que até o momento nunca teve a oportunidade de jogar contra qualquer outro time. Ela convence sua equipe local, que tem jogadoras de origens alemã, turca, grega, coreana e tunisiana, a tentar mudar isso. Marlene começa a procurar por apoiadores para sua idéia. Como ela não os encontra na Alemanha, viaja até o Teerã e inicia uma fascinante e difícil peregrinação pelas instituições iranianas, de burocracia kafkiana e preceitos islâmicos sexistas. Com a data inicial do jogo sendo inúmeras vezes adiada e numa conjuntura política complexa, parece que quanto mais persistência em concretizar o sonho, mais distante ele aparenta estar. Instigante retrato da força das mulheres, este documentário conquista o espectador por ser bem construído, dinâmico e apaixonado. O longa é a estréia de David Assmann, mas Ayat Najawi já dirigiu um curta, Move It (2005), cuja personagem principal é uma menina jogando bola na rua. Onde Assistir: ESPAÇO UNIBANCO DE CINEMA SALA 1: 19/11 (quarta-feira) - 20h50Segredos de Halloween (Gabriel Fleming, 2008, EUA, 74')É noite de Halloween no notório distrito de Castro, em São Francisco. Mark, Jasper e Lily são amigos desde os tempos de colégio e agora estão em seus vinte e poucos anos. Eles se reúnem para se divertir nesta festa, uma consentida baderna pública e anual. Mark é gay e vive com Lily (que foi sua namorada em tempos colegiais), enquanto Jasper é hetero e está prestes a se casar. Enquanto o trio perambula pela cidade, extravasando um comportamento cínico e amargo, Jasper e Mark são forçados a lidar com um velado histórico de tensão sexual entre ambos. Com essa trama, o cineasta Gabriel Fleming lança seu olhar às sutilezas da sexualidade, da amizade e da solidão. Foi premiado como melhor filme no Festival de Cinema Lésbico e Gay de Nova York. Onde Assistir: CINESESC - 14/11 (sexta-feira) - 18h00 ESPAÇO UNIBANCO DE CINEMA - 15/11 (sábado) - 20h50Wrangler: Anatomia de um Ícone (Jeffrey Schwarz, 2008, EUA, 82')A pornografia gay conta com inúmeros astros, mas há apenas um Jack Wrangler. Longe de ser um típico objeto obscuro do desejo, ele surgiu na cena no início dos anos 1970 com uma imagem sarada e viril. Wrangler foi o primeiro ator assumido a associar sua masculinidade a um prazer hedonista em se exibir, tornando-se um exemplo para a comunidade gay. Neste documentário, uma divertida história oral sobre a revolucionária década de 70, Wrangler relembra as diferentes fases de sua carreira. Fãs como, entre outros, a drag diretora de pornôs gays Chi Chi La Rue, o compositor e letrista vencedor do prêmio Tony Marc Shaiman (de Hairspray e South Park) e o pioneiro do pornô gay Joe Gage relembram os tempos das salas especializadas de cinema e destacam a importância e a gostosura de Wrangler. São exibidas também cenas de cerca de trinta filmes dos quais o ator participou, de Boys Beware (1961) a Jack ‘n Jill 2 (1984), passando por A Night at the Adonis (1977) e O Diabo na Carne de Miss Jones Parte 2 (1982). Wrangler é a prova viva de que há uma segunda – e até uma terceira – chance no “American way of life”: ele migrou com sucesso de astro gay, com direito a uma linha personalizada de produtos, a garanhão de pornôs hetero na virada dos anos 1980; mais recentemente, tornou-se diretor de peças sérias de teatro. A mudança mais radical, porém, foi quando se apaixonou pela cantora Margaret Whiting, com quem mantém uma relação de quase três décadas. Rompendo com qualquer padrão de comportamento, Wrangler até hoje é um exemplo a ser seguido. Onde Assistir: CINESESC - 14/11 (sexta-feira) - 20h00 CINESESC - 18/11 (terça-feira) - 16h00
